quinta-feira, 20 de junho de 2013

Alvo de protesto nas ruas, gastos com a Copa dariam para contratar 2 milhões de professores

Brasileiros estão revoltados com os R$ 28 bilhões destinados ao torneio

Os gastos elevados para a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil são certamente uma das principais razões da revolta dos brasileiros expressa nas passeatas que ocupam as ruas das principais cidades e capitais do País. Nos protestos, fica claro o descontentamento com o volume e forma como são feitos os investimentos na Copa. Em São Paulo, manifestantes contra o aumento da passagem de ônibus têm circulado com cartazes com a frase "Fifa, paga minha tarifa" e entoado bordões como "Ei, Brasil vamos acordar: um professor vale mais do que o Neymar".
Nesta terça-feira (18), o Ministério dos Esportes elevou a previsão dos gastos com a organização do evento, passando dos R$ 25,5 bilhões em abril para R$ 28 bilhões. Com esta nova quantia, é possível construir mais de 90 mil postos de saúde completamente equipados, comprar cerca de 350 mil ambulâncias equipadas, contratar mais de 2 milhões de professores por ano ou construir quase 25 mil km de estradas asfaltadas. Para elevar esta insatisfação, o governo, que arca com quase todo o investimento, assumiu que esses gastos devem subir mais ainda até 2014.
Para Felipe Saboya, coordenador da área de políticas públicas do Instituto Ethos, acrescenta que o crescimento de gastos se deve principalmente a dois pontos críticos.
— Há duas coisas principais a serem analisadas nesse aumento dos gastos. A falta de planejamento da gestão pública e a falta de transparência, além da ausência da participação da população impactada pelos investimentos. As pessoas não têm a possibilidade de discutir isso com o poder público.
A falta de transparência é sentida também por quem é responsável por acompanhar esses gastos. O deputado Antônio Carlos Valadares Filho (PSB-SE), vice-presidente da Comissão de Turismo e Desportos da Câmara dos Deputados, enxerga com muita preocupação esse crescimento dos gastos.
O parlamentar questiona que não há parâmetros claros para definir qual a parcela de dinheiro público está sendo realmente investido. Também não é conhecido o montante privado.
— Nós [da comissão] temos de ter esta informação de forma concreta. Até porque, ela nunca foi passada pra gente, apesar de já ter sido cobrada. [...] Vamos votar uma reivindicação no plenário da Câmara [que torna obrigatória a prestação de contas].
Outro ponto sobre os investimentos é o legado que a Copa irá deixar. O dinheiro da Copa já ultrapassa os gastos com o Bolsa Família. Apenas em 2012, o programa social do governo federal desembolsou cerca de R$ 20 bi com as famílias brasileiras.
Os entrevistados ouvidos pelo R7 concordam que as obras de mobilidade urbana são as principais heranças que os torneios deixarão para o País. Porém, nem todas as construções ficarão prontas até lá, destaca Saboya.
— A grande maioria [das obras], ou foram canceladas, ou não vão ficar prontas a tempo para a Copa do Mundo. Independente disso, elas vão acontecer. [...] O benefício prometido em se trazer a Copa do Mundo para o Brasil eram as obras de mobilidade urbana, as quais a grande maioria não vai ficar pronta a tempo. É contestável o argumento de que "a Copa trouxe esses benefícios", porque essas obras teriam de ser feitas independente do torneio.
O deputado Valadares Filho já é mais crítico quanto ao ritmo das obras de mobilidade urbana.
— O maior legado que nós podemos deixar para a sociedade brasileira é a melhoria do transporte público, a melhor estrutura aeroportuária e o crescimento turístico do País. São legados importantíssimos que nós temos de deixar. [..] Até o momento, não estamos vendo esse legado.
Sobre o gasto geral, o parlamentar pontua que o retorno dele é mais importante do que o valor em si.
— Se esses gastos vierem a ser revertidos em benefício para a sociedade, não vejo problema nenhum nisso. Mas, até o momento, principalmente nas obras de mobilidade, na melhoria dos transportes públicos, na questão aeroportuária, as coisas estão muito devagar. [...] Devemos deixar o legado para o País.


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